Palestinos caminham com sacos de farinha entregues, após caminhões com ajuda humanitária entrarem no norte de Gaza em 27 de julho de 2025, vindos da passagem fronteiriça de Zikim. (Foto: Majdi Fathi/NurPhoto)
Em meio a uma torrente de críticas internacionais sobre a situação humanitária em Gaza, Israel instituiu uma mudança repentina e radical em sua política de ajuda no domingo.
O Primeiro-Ministro Netanyahu defendeu sua decisão durante comentários feitos em uma visita à Base Aérea de Ramon, no deserto do Negev, no domingo.
“Vamos eliminar o Hamas”, reiterou. “Para completar esse objetivo, e a libertação de nossos reféns, estamos fazendo progressos na luta e nas negociações.
“Em qualquer caminho que escolhermos, teremos que continuar a permitir a entrada de suprimentos humanitários mínimos. Fizemos isso até agora”, disse Netanyahu.
Insinuando a possível razão principal para a medida, o primeiro-Ministro atacou então as Nações Unidas: “Dizem que não estamos permitindo a entrada de ajuda humanitária. Ela é permitida. Existem comboios protegidos. Sempre existiram, mas hoje é oficial. Não haverá mais desculpas. Continuaremos a lutar, continuaremos a agir até alcançarmos todos os nossos objetivos de guerra – até à vitória completa.”
A decisão de aumentar os esforços de ajuda em detrimento dos esforços de combate das IDF teve como objetivo aliviar a pressão dos EUA e evitar sanções iminentes da Europa, de acordo com relatos Israelenses.
O Ministro da Energia, Eli Cohen, disse à Kan News que a medida de Israel foi tomada após reuniões do Ministério das Relações Exteriores “com seus homólogos na Europa e, a fim de evitar sanções Europeias contra Israel, foi decidido avançar com essas medidas”.
Na terça-feira passada, a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, advertiu que “todas as opções continuam em aberto se Israel não cumprir suas promessas” e disse que “a morte de civis que buscam ajuda em Gaza é indefensável”.
Cohen, que serviu como ministro das Relações Exteriores até o ano passado, explicou que “o Hamas quer chegar a uma situação em que sejam tomadas decisões contra o Estado de Israel no cenário internacional, para alcançar o objetivo de que a guerra termine e ele continue a existir”.
No entanto, Israel “não caiu nessa armadilha”, segundo Cohen.
Conteúdo dos caminhões de ajuda humanitária aguardando para serem recolhidos no lado de Gaza da fronteira de Kerem Shalom (Foto: IDF)
Em declarações ao Israel Hayom, fontes próximas de Netanyahu enfatizaram que não foi a pressão externa em si, mas o desejo de preservar a liberdade de ação das IDF que levou à mudança.
Isso incluiu a crescente pressão do Presidente dos EUA, Donald Trump, disseram autoridades de Israel ao veículo de comunicação.
“A campanha de fome está prejudicando nossa imagem globalmente, inclusive nos Estados Unidos. Não podemos permitir a fome em Gaza porque, operacionalmente, não poderíamos continuar lutando”, disse uma fonte ao jornal. “Esse sempre foi o princípio orientador. Não recuamos disso. Ainda temos surpresas reservadas para o Hamas e devemos preservar nossa liberdade operacional.”
Outro oficial explicou que Israel pretende demonstrar que não é responsável pela difícil situação no enclave.
“Quando as Forças de Defesa de Israel criam corredores humanitários, elas eliminam as desculpas da ONU para não entregar a ajuda que já havíamos aprovado”, disse ele.
“Há uma necessidade humanitária real, além de considerações diplomáticas e de percepção, mas Israel não comprometeu nenhum de seus princípios fundamentais na guerra”, enfatizou o oficial.
Um ministro do Gabinete Israelense disse ao jornal que Israel deveria ter agido mais cedo para evitar ser pego pela torrente de críticas severas do último dia.
“Nunca deveríamos ter chegado a este ponto. Deveríamos ter agido mais cedo para evitar a imagem negativa internacionalmente.”
No entanto, vários membros do Gabinete, principalmente o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, criticaram a medida Israelense.
De acordo com o Channel 12 News, Ben Gvir renovou sua proposta ao colega de direita e Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de criar um bloco unificado e ameaçar deixar a coalizão — potencialmente derrubando o governo — se a decisão não fosse revertida.
Fontes próximas a Smotrich disseram que o ministro estava furioso com a decisão, a qual teria sido tomada durante o Shabat (sábado) e sem consultá-lo, e agora está considerando suas opções, incluindo deixar a coalizão.