Prisioneiros de guerra soviéticos sendo usados pela Alemanha para cobrir a vala comum após o massacre de Babi Yar — 1º de outubro de 1941. (Foto: Wikimedia Commons)
Mais de mil vítimas previamente não identificadas do massacre de Babi Yar, no qual as forças nazistas mataram mais de 33.000 judeus na cidade ucraniana durante o Holocausto, foram nomeadas durante uma cerimônia memorial realizada, simultaneamente, em Jerusalém e na Ucrânia.
O massacre de Babi Yar, em 1941, foi um dos maiores assassinatos em massa de judeus durante o Holocausto, e é conhecido como “Holocausto das Balas”, pois a maioria das vítimas foi baleada pelas forças nazistas.
Os assassinatos ocorreram entre 29 e 30 de setembro de 1941, quando soldados nazistas e colaboradores assassinaram 33.771 judeus em uma ravina nos arredores de Kiev.
Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський no X @ZelenskyyUa Mesmo durante a guerra, nós nunca nos esquecemos da tragédia de Babi Yar, a tragédia do Holocausto. Essa tragédia foi tão imensa porque o mundo foi muito lento e assistiu, em silêncio, enquanto os fascistas colocavam em prática a sua violência. A tragédia de Babi Yar é um exemplo do por que, hoje, o mundo… Mostra Mais
Mais tarde na guerra, a ravina também se tornou o local do massacre de outros grupos, incluindo prisioneiros políticos ucranianos, prisioneiros de guerra soviéticos e milhares de ciganos.
O Centro Memorial do Holocausto de Babi Yar (BYHMC) revelou o nome de 1.031 vítimas durante a cerimônia na segunda-feira.
“A descoberta, possibilitada pelo acesso sem precedentes a arquivos e pela digitalização em grande escala, apesar da guerra em curso, lança uma nova luz sobre uma das piores atrocidades do Holocausto — o assassinato de 33.771 judeus durante dois dias em setembro de 1941, o início do ‘Holocausto das Balas'”, disse o centro em um comunicado à imprensa.
No evento memorial realizado em Jerusalém, o presidente do BYHMC, Natan Sharansky, o embaixador da Ucrânia em Israel, Yevgen Korniychuk, e o presidente do Yad Vashem, Dani Dayan, discursaram para os presentes.
A cerimônia fez parte dos eventos do 84º aniversário do massacre. Durante a cerimônia em Kiev, Anna Furman, CEO do Centro Memorial do Holocausto de Babi Yar, revelou a lista de novos nomes que foram descobertos graças a pesquisas contínuas de materiais que sobreviveram ao massacre.
“Tenho orgulho de que a nossa equipe tenha feito isso, descobrindo novos fatos e resultados por meio da colaboração com pesquisadores e instituições, bem como pela análise de todos os materiais que pudemos encontrar”, disse Furman na cerimônia.
Na cerimônia em Jerusalém, Natan Sharansky falou sobre a importância de se recordar.
“A lembrança é uma arma moral contra a negação, o esquecimento e a distorção”, disse Sharansky aos presentes.
“Cada nome que conseguimos restaurar contribui para a honra do Holocausto e promove justiça e dignidade para as suas vítimas. Há uma tentativa flagrante de minar a história e até mesmo apagá-la. Especialmente em tempos de guerra, a obrigação de defendermos a verdade é dobrada.”
Sharansky também disse que as tentativas de se usar o Holocausto contra os judeus, nos tempos modernos, não são novidade.
“Usar o Holocausto contra os judeus não é algo que surgiu hoje”, afirmou Sharansky. “Um professor da Universidade de Columbia e alguns outros, mesmo 20 anos atrás, já diziam que o que os nazistas fizeram aos judeus é o que os judeus fazem, hoje, aos palestinos. Esse é o ápice do antissemitismo. É exatamente isso que os antissemitas dizem o tempo todo.”
“Não é por acaso que os nazistas fizeram Babi Yar em Yom Kippur”, continuou Sharanksy.
“Não é por acaso que a Kristallnacht [Noite de Cristal] aconteceu em Tisha B’Av. Eles pegam os nossos símbolos e os usam contra nós. Após a Shoá, o antissemitismo tornou-se ilegal. Hoje, eles podem pegar o Holocausto e usá-lo contra os judeus.”
O banco de dados do BYHMC, agora, contém o nome de cerca de 30.000 judeus mortos durante o massacre, além de incluir detalhes como relações familiares, idade e profissão. O centro também informou que mais de 2.000 registros existentes foram atualizados e corrigidos desde o início da guerra na Ucrânia.