Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em 29 de setembro de 2025. Foto: Avi Ohayon (GPO)
Desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, apresentou o seu plano de paz para acabar com a guerra em Gaza, na segunda-feira, quase todos os líderes relevantes em Israel emitiram, prontamente, uma resposta pública ao plano, com exceção de algumas personalidades interessantes.
Mais do que o habitual, a reação dos líderes políticos é crucial para medir a probabilidade de que ele seja, de fato, executado, já que a coalizão do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, continua mantendo apenas uma leve maioria.
Os líderes dos partidos da oposição acolheram amplamente o acordo, argumentando que o primeiro-ministro deveria ter aceito um acordo semelhante há muito tempo.
Enquanto isso, seus parceiros de coalizão da direita, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich e o ministro da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, têm rejeitado, consistentemente, quaisquer acordos com os terroristas do Hamas, e, portanto, devem se opor ao acordo.
Notavelmente, Ben Gvir, o qual não costuma ser tímido ao compartilhar suas opiniões, ainda não havia comentado publicamente sobre o plano até o momento de sua publicação, ao passo que Smotrich o criticou sem rejeitá-lo de forma explícita.
Para evitar possíveis controvérsias que ameaçariam a estabilidade do governo, Netanyahu decidiu que a base não votará a favor do plano completo, aprovando somente a troca de reféns por prisioneiros palestinos, conforme exigido por lei, informou o Canal 12.
O Partido Sionista Religioso de Smotrich teria ameaçado deixar a coalizão se o plano fosse levado para a aprovação do governo.
Pouco depois de aceitar o plano, com entusiasmo, ao lado do presidente Trump, na Casa Branca, Netanyahu começou a apresentá-lo de forma a maximizar a aprovação da direita israelense.
Netanyahu divulgou outro de seus característicos vídeos curtos para resumir a visita aos EUA, enfatizando que “em vez de o Hamas nos isolar, nós revertemos a situação e isolamos o Hamas.”
“Agora, o mundo inteiro, inclusive o mundo árabe e muçulmano, está pressionando o Hamas a aceitar os termos que criamos, junto com Trump, para trazer de volta todos os reféns – vivos e mortos –, enquanto as IDF permanecem na Faixa de Gaza.”
Questionado pelo operador de câmera se, agora, Israel estaria concordado com a criação de um Estado palestino, Netanyahu respondeu: “Absolutamente não. Isso não está escrito no acordo. Dissemos que nos oporíamos veementemente a um Estado palestino.”
Em contrapartida, o item 19 do plano afirma que “quando o programa de reforma da AP for fielmente executado, as condições poderão estar, finalmente, propícias para uma via confiável que conduza à autodeterminação palestina e à criação de um Estado próprio.”
Yossi Dagan, chefe do Conselho Regional da Samaria, alertou que “ao contrário dos discursos, o documento inclui complacência com o estabelecimento um Estado terrorista na Judeia e Samaria, mesmo que sob certas condições – isso é uma linha vermelha; nunca acontecerá”.
Smotrich publicou um longo post no 𝕏, no qual prometeu fazer consultas sobre o assunto, ao mesmo tempo em que descartou as comemorações como “simplesmente absurdas”. No entanto, ele não disse explicitamente que deixaria a coalizão por causa do plano.
“Voltar, depois do 7 de outubro e após dois anos de dedicação, heroísmo e sacrifício... à velha mentalidade de confiar nossa segurança a estrangeiros e à ilusão de que outra pessoa fará o trabalho por nós... trocar conquistas tangíveis por ilusões políticas... [é] uma oportunidade histórica perdida de, finalmente, nos libertarmos das amarras de Oslo”, acusou Smotrich.
“Na minha avaliação, isso também acabará em lágrimas. Nossos filhos serão forçados a lutar em Gaza outra vez... Vamos consultar, considerar e decidir, com a ajuda de Deus”, escreveu ele.
As primeiras reações, porém, indicaram que Netanyahu pode contar com o apoio de seu partido, o Likud. O ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa'ar, afirmou que o plano alcançou os objetivos da guerra estipulados por Israel, ao passo que o novo ministro do Turismo e Habitação, Haim Katz, elogiou-o por alcançar “o retorno de todos os reféns, a remoção de todas as ameaças existenciais e a concretização de paz para os cidadãos de Israel”.
O parlamentar do Likud Avichai Boaron, conhecido por suas opiniões agressivas, também argumentou que o acordo permitiria a Israel manter uma zona-tampão, e que Trump aceitara “a oposição de Netanyahu a um Estado palestino”.
“Caros amigos, leiam com atenção. É com isso que uma vitória absoluta se parece”, escreveu Boaron no 𝕏.
O presidente do Shas, Aryeh Deri, que sempre defendeu um acordo de cessar-fogo, agradeceu a Deus “pelo sucesso da importante reunião na Casa Branca.”
“Expresso o meu total apoio ao plano do presidente e oro para que, já na próxima festividade de Sucot, tenhamos o privilégio de ver os nossos filhos cativos retornarem aos braços de suas famílias; os nossos soldados reservistas voltarem para casa – e que todos nós tenhamos o privilégio de uma verdadeira ‘Sucá da Paz’”, disse Deri.
O Fórum Tikva, um grupo que representa as famílias dos reféns e que é mais agressivo do que o Fórum dos Reféns, acolheu o plano, ressaltando que ele era consistente com a sua exigência de retornarem todos os reféns de uma só vez.
Enquanto isso, todos os líderes da oposição acolheram o plano, criticando Netanyahu por não ter aceitado propostas anteriores, que, segundo eles, eram semelhantes ao plano de Trump, há muito tempo.
Chamando o plano de “uma oportunidade tremenda para Israel”, o presidente da lista partidária Azul e Branco, Benny Gantz, pediu que Israel aderisse, incondicionalmente, a dois princípios: “Todos os reféns retornam no início do processo. Esta é a questão mais urgente. A segunda: Israel mantém a sua liberdade de atuação na segurança e não terceiriza a sua segurança.”
O líder da oposição, Yair Lapid, publicou uma série de tweets elogiando o plano de Trump como “a base certa para um acordo pelos reféns e o fim da guerra”. Contudo, ele também argumentou que “o mais importante” sobre o plano é que “ele já estava na mesa há um ano e meio.”
Ele argumentou, ainda, que a maior ameaça ao plano “não são as pessoas que dizem ‘não’, como Ben-Gvir ou os iranianos, mas as pessoas que dizem ‘sim, mas…’ Netanyahu é um especialista experiente e exaustivo em ‘sim, mas…’ Normalmente, ele diz o ‘sim’ em Washington, diante das câmeras na Casa Branca, sentindo-se como um estadista inovador, e o ‘mas’ quando volta para casa e a ‘base’ o faz lembrar quem é que manda.”
Lapid prometeu que seus 24 votos no Knesset “possibilitariam a aprovação do acordo”, mesmo que os membros da coalizão de Netanyahu se opusessem.
O líder do Yisrael Beitenu, Avigdor Liberman, e o presidente do Partido dos Democratas, Yair Golan, também receberam bem o plano americano.
Por fim, dois líderes que esperam desempenhar papéis significativos no próximo ciclo eleitoral também se manifestaram.
Gadi Eisenkot, que recentemente deixou a Unidade Nacional de Gantz para fundar o “Yashar”, pediu a Netanyahu que “ignorasse as ameaças políticas dos extremistas em seu governo.”
Ele escreveu que “o público apoia o retorno dos reféns, e há uma clara maioria a favor disso no Knesset.”
“Este será um primeiro passo – há muito esperado – rumo à reparação, cura e esperança para assegurarmos o nosso futuro em Israel”, disse ele.
Além de Ben Gvir, o outro líder notável que não comentou de imediato foi o ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, que finalmente expressou a sua opinião na manhã de terça-feira.
Ao descrever o “desastre” do 7 de outubro de 2023, Bennet ressaltou que “agora, o massacre e a guerra devem chegar ao fim após o governo israelense pedir desculpas (!) aos financiadores do massacre no Catar e estar libertando centenas de assassinos terroristas do nível de Sinwar.”
“Este é um passo doloroso, mas necessário, uma vez que o governo israelense não conseguiu obter uma vitória decisiva sobre o Hamas nem trazer de volta, para casa, os nossos irmãos e irmãs sofridos que estão no cativeiro – e o preço que estamos pagando e continuaremos a pagar em vidas humanas é insuportável.”