Palestinos recebem refeições de voluntários na cidade de Gaza, em 25 de julho de 2025. (Foto: Ali Hassan/Flash90)
O Hamas considera a distribuição de ajuda humanitária em Gaza parte integrante do seu papel como autoridade governamental no enclave, e teme que a perda da supervisão seja mais um passo na queda do poder da organização, afirma um analista Árabe.
O pesquisador da Fundação para a Defesa das Democracias, Hussain Abdul-Hussain, que se tem concentrado, como analista, principalmente na situação do Líbano e da Síria, abordou recentemente as narrativas contraditórias em torno da situação da ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Em uma postagem no 𝕏, Hussain afirmou que muitos Palestinos em Gaza “precisam desesperadamente de ajuda”, ao mesmo tempo em que afirmou que o Hamas interfere na distribuição da ajuda.
“Os habitantes de Gaza precisam desesperadamente de ajuda”, escreveu Hussain.
“Por favor, entendam por que eles não estão recebendo muito. A ajuda humanitária depende de dois fatores: abastecimento e distribuição”, ele explicou. “Os centros de abastecimento de Gaza estão repletos de todos os tipos de alimentos e medicamentos. O problema é a distribuição.”
Sua postagem foi feita depois que as Forças de Defesa de Israel (IDF) e o escritório de Coordenação das Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT) refutaram as alegações da ONU e de várias ONGs de que Israel estava impedindo a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
“O Hamas considera a distribuição como sua função enquanto governo de Gaza e acredita que, se perder esse papel, ele se tornará irrelevante e perderá o poder”, explicou Hussain. “Por isso, o Hamas tem obstruído a distribuição, aterrorizando os trabalhadores humanitários e os habitantes de Gaza.”
A decisão de Israel de alterar a distribuição da ajuda humanitária na Faixa de Gaza como parte da Operação Carruagens de Gideão, que marcou o início da distribuição pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), parece ter contribuído para uma crise financeira do Hamas.
Parte da justificativa apresentada por Israel e pelos Estados Unidos para a criação da GHF foi a alegação, apoiada por depoimentos de reféns e relatos de Palestinos que vivem na Faixa, de que o Hamas estava confiscando partes significativas da ajuda humanitária que entrava na Faixa de Gaza sob a supervisão de agências e parceiros da ONU.
Hussain também escreveu que “Nas áreas onde o Hamas perdeu o controle, os residentes de Gaza estão em uma situação melhor do que nas áreas onde o Hamas ainda governa nas sombras”.
Um relatório recente do The Wall Street Journal destaca como o grupo miliciano Forças Populares, no sul de Gaza, tem tentado criar uma zona livre do Hamas em Rafah.
Yasser Abu Shabab, líder das Forças Populares, disse ao Journal que sua milícia “garantiu” vários quilômetros quadrados de terra na área de Rafah para criar um lugar seguro para os Palestinos que desejam se livrar do Hamas.
Abu Shabab disse que o “objetivo principal” da milícia é separar do fogo da guerra os Palestinos que não têm nada a ver com o Hamas.
“Nas últimas sete semanas, nosso bairro se tornou a única área em Gaza governada por uma administração Palestina não afiliada ao Hamas desde 2007”, ele afirmou. “Nossas patrulhas armadas conseguiram manter o Hamas e outros grupos militantes fora da área. Como resultado, a vida aqui não parece mais com a vida em Gaza.”
O Hamas acusou Abu Shabab de traição, espionagem em nome de elementos estrangeiros, estabelecimento de uma célula armada, rebelião armada e muito mais. Recentemente, pediu que ele se entregasse, ameaçando julgá-lo à revelia por seus crimes.
As Forças Populares se envolveram em vários tiroteios com o Hamas, até mesmo com o apoio das Forças de Defesa de Israel, já que Israel busca enfraquecer a capacidade do Hamas de governar, bem como sua capacidade de lutar.
Hussain concluiu sua postagem afirmando: “Se o Hamas desaparecer, os residentes de Gaza receberão tudo o que precisam em um piscar de olhos”.
Jornalistas palestinos fazem reportagem sobre a guerra e a atual crise humanitária na região central da Faixa de Gaza, em 26 de julho de 2025. Foto de Ali Hassan/Flash90