O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e sua esposa, Sara, encontram-se com reféns libertados no Hospital Beilinson — 14 de outubro de 2025. Foto: Avi Ohayon (GPO)
Vários dias após seu milagroso retorno do cativeiro em Gaza, as famílias dos vinte reféns libertados começaram a compartilhar os detalhes terríveis dos horrores que seus entes queridos sofreram nas mãos dos terroristas do Hamas por mais de dois anos.
“Cada um deles passou por adversidades e horrores indescritíveis e, portanto, o caminho para a recuperação será muito longo”, disse o Prof. Itai Pessach, diretor-geral adjunto do Centro Médico Sheba, um dos hospitais que recebeu os reféns libertados e continua tratando-os.
Apesar dos receios pelo pior cenário, todos os repatriados conseguiam ficar de pé e andar com suas próprias pernas, e os médicos estão otimistas quanto às chances de uma recuperação quase completa.
“Como médico e como ser humano, não consigo enfatizar o suficiente o impacto de estar rodeado por seus entes queridos no bem-estar geral e na capacidade de cura”, enfatizou Pessach, ressaltando que eles “provavelmente precisarão de semanas, meses e talvez anos para se recuperar.”
Além dos ferimentos causados por espancamentos e outras torturas, um dos principais problemas que eles enfrentam são os efeitos de dois anos de desnutrição.
“O corpo se lembra desses mais de 700 dias de cativeiro e fome”, disse a Dra. Michal Steinman, diretora de enfermagem do Centro Médico Rabin em Petah Tikvah.
“Será um caminho muito longo, e haverá altos e baixos, mas acho que cada um deles desenvolveu técnicas realmente especiais de sobrevivência e de como manter a mente e a alma protegidas”, disse ela.
Idit Ohel, mãe do refém libertado Alon Ohel, disse que seu filho viveu com estilhaços no olho por dois anos, o que afetou gravemente a sua visão. No entanto, ela disse que a equipe médica está otimista de que parte da visão do olho possa ser restaurada por meio de cirurgia.
Tami Braslavski, mãe de Rom Braslavski, disse que seu filho lhe contou que foi chicoteado e espancado “com coisas que eu nem vou mencionar” e que os terroristas tentaram persuadi-lo a se converter ao islamismo em troca de comida extra e melhores condições.
Durante longos períodos do seu cativeiro, Braslavski recebia apenas metade de um pão pita, à noite, enquanto suas mãos e pés permaneciam algemados.
“É importante, para ele, manter a sua identidade judaica, pois eles pediram que ele se convertesse ao islamismo”, disse ela. “Eles tentaram seduzi-lo com comida e pequenas regalias. Ele não cedeu e não fez isso.”
Avinatan Or, namorado da ex-refém Noa Argamani, também teve as mãos e os pés algemados, e foi mantido sozinho em um túnel durante todo o período do seu cativeiro.
“Avinatan tentou escapar do cativeiro, e, por isso, eles o espancaram”, disse seu pai, Yaron, ao veículo Kan News. “Ele foi algemado às grades. Era um lugar com grades de 1,80m de altura, e o comprimento era o comprimento do colchão e mais um pouco. Chamemos isso de jaula.”
“Eles não o deixaram morrer de fome, mas a comida era escassa. Ele está muito magro”, disse ele.
O rabino Avi Ohana, pai do refém libertado Yosef-Haim Ohana, disse que, pouco antes de sua libertação, o seu filho foi colocado em um poço subterrâneo, por vários dias, junto com outros seis reféns.
“[Eles] colocaram sete homens em um poço. Eles não podiam sentar, apenas encostar na parede enquanto permaneciam de pé. Ele estava com falta de ar. Agradeço a Deus, que o fortaleceu. O que o manteve vivo foi a sua família.”
Antes disso, os sequestradores fizeram Ohana e outro refém ouvirem programas religiosos muçulmanos no rádio. No entanto, eles acabaram mexendo no rádio e conseguiram sintonizar a rádio do exército israelense, onde ouviram o pai de Ohana ser entrevistado.
“Ele disse para si mesmo: ‘Meu pai está vivo! Ele está esperando por mim!’ e isso lhe deu uma nova vida”, disse o pai.
Yotam Cohen, irmão do refém libertado e soldado das FDI Nimrod Cohen, disse ao jornal Haaretz que os terroristas “tentaram convencê-los a acreditar que Israel havia desistido deles; que o governo não queria trazê-los de volta; que o país não estava lutando por eles.”
Nimrod Cohen também ficou preso em uma jaula, em um túnel, por um ano e meio, enquanto era interrogado, vendado e espancado, disse ele. “Eles o tratavam pior, pois era soldado.”
Muitos dos repatriados relataram que sua fé foi uma das principais coisas que lhes permitiu manter a sanidade e não perder a esperança.
Julie Kuperstein disse que seu filho, Bar, a surpreendeu quando pediu um tzitzit, a vestimenta judaica tradicional com franjas rituais.
“Fiquei em choque”, disse ela à Rádio do Exército, “Ele tinha fé, era meio tradicional, mas não assim. Havia muçulmanos no cativeiro que também oravam ao Criador e observavam todos os feriados e jejuns, e ele disse que, se eles faziam isso, então ele também queria estar perto do Criador do mundo.”
“Eles passaram por abusos e torturas horríveis — sério”, disse ela. “Fome severa. Você não trataria animais dessa maneira. Ele me conta coisas, e eu sento na frente dele, chorando, percebendo que meu filho é forte e corajoso — não há ninguém como ele no mundo. Então ele me diz: ‘Mãe, você precisa saber: eles me bateram, mas eu não senti nada — meu corpo estava dormente’. Ele disse que era tudo na mente, como se tivesse treinado, mentalmente, para não sentir a dor — e ele sobreviveu.”
“Sempre que um dos terroristas era morto, ou se um parente deles tinha a casa destruída ou algo assim — eles vinham e os espancavam, violentamente, e os torturavam. Foram tempos realmente difíceis. Prefiro não entrar em detalhes. Ele me disse: ‘Mãe, eu dormia — continuava dormindo. Não deixava que o barulho ao redor me perturbasse. Eu simplesmente escolhia dormir.’ E ele fez isso — dormiu por horas. Isso foi algo que o manteve são. Além disso, o fato de estarem juntos tornou tudo mais fácil do que estar sozinho com aquela lavagem cerebral toda.”
“Certa vez, ele nos contou que tiveram de passar por várias casas e, na última, algo deu errado. O prédio explodiu — e era para ele estar ali. Ele, literalmente, foi salvo por um milagre. Ele não deveria estar aqui, estou falando sério. Ele tomou a decisão de fazer um ato de caridade. Ele disse a si mesmo: ‘Tenho 200 shekels na minha carteira, em casa, e, quando eu sair do cativeiro, vou pegá-los e doá-los — e isso vai me salvar’”, disse ela.
“Uma pessoa que está na escuridão, no inferno — acho que a primeira coisa é se conectar com o Criador, tentar se salvar de alguma forma”, concluiu ela.
“Ele tinha um diálogo com Deus. Ele recitava a oração Shemá Yisrael, rezava e recitava um salmo que conhecia.”